quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Aprender a educar: lições de O clube do filme



GILMOUR, David. O clube do filme. Trad. de Luciano Trigo. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2009.
Aprender é um delicioso desafio para aqueles que entendem a arte de viver. Gilmour, no seu livro de intuito simples, nos traz uma brilhante mensagem sobre aprender e viver. Desde o incentivo para realizar sua leitura, já tive muitas lições sobre as dimensões do conhecimento e seus diversos entornos. Meu contato com o livro se deu através de uma disciplina, Prática de Multimeios, da licenciatura de Letras, momento na qual minha querida mestra Andrea Lobato recomendou o livro após lê-lo e se deliciar com ele. Meu preconceito foi imediato... Como um livrinho Best-seller poderia contribuir no meu aprendizado de docente criativa na prática pedagógica? Nada de franceses ou russos no repertório, ou uma difícil leitura estruturalista?! Estranho, porém quis arriscar, afinal era uma indicação da minha professora que tanto admirava por seus conhecimentos e sensibilidade; alguma coisa esse livro tinha que ter!
Cada página que lia do livro confirmava frase por frase sua qualidade e preciosidade e o quanto eu tinha sido preconceituosa por se tratar de um livro com boas vendas. Nós, que estudamos para sermos professores (ou até mesmo os que já são!), precisamos superar certos paradigmas, pois aprender não tem limites, não tem regras, formas ou autores pré-determinados; essa é a principal lição de David Gilmour em seu livro Clube do Filme. O autor relata sua experiência pessoal de se ver obrigado a tirar o filho Jesse do ensino regular pelo total fracasso DESTE. É isso mesmo, quem estava fracassando não era Jesse que ia mal na escola, mas a escola que agia mal com Jesse. Nós professores temos verdadeira mania, como todo ser humano, de colocar a culpa dos nossos erros nos outros. Se os alunos não aprendem, claro que a culpa é deles que são um bando de preguiçosos e desinteressados, pensamos nós. Gilmour prova na sua amorosa atuação de pai/educador o quanto isso é uma terrível falácia que pode destruir a vida de um jovem, de um adolescente que às vezes só precisa de valorização para desenvolver suas potencialidades.
Desesperado ao ver Jesse com verdadeira ojeriza ao colégio, Gilmour decide educá-lo sozinho, criando o clube do Filme. A educação do seu filho consistiria somente em assistir três filmes por semana, escolhido por ele, o pai, que daria orientações a partir das sessões. Jesse concordou instantaneamente, para ele era um alívio sair daquela masmorra que tinha que ir todos os dias... Mas não pensem que Gilmour encheu o filho de filmes cults, “cabeça”, ele tinha a consciência de que não poderia “ (...) ficar indiferente ao prazer de Jesse, ao seu apetite de entretenimento. É preciso começar de algum lugar; se você quiser despertar o interesse de alguém por literatura, não pode começar propondo a leitura de Ulisses” (GILMOUR, 2009). Filmes como Cantando na chuva,de Stanley Done e Ladrões de Bicicleta, de Vittorio de Sica conviviam harmoniosamente no “planejamento” do nosso aspirante a professor.
Levar em consideração o lúdico na aprendizagem de um aluno, não é desmerecer o conhecimento, muito pelo contrário, fazer dos estudos um verdadeiro massacre é como dizer ao seu aluno: “aprender é sofrido, é para poucos e você não merece conhecer”, quando a postura do verdadeiro educador seria a de democratizar o conhecimento, fazê-lo acessível a todos, compreendendo as particularidades de seus educandos no ato de ensinar/aprender. Gilmour também não deixa de ter essa percepção como um grande educador que demonstra ser em seu livro. O ensino proporcionado por ele a Jesse estava sempre diretamente relacionado com a vida pessoal de seu filho. Observar o humor deste, suas aflições e alegrias era essencial para o critério da escolha de um filme. Se Jesse estava bem, contente, arriscava filmes mais “difíceis”, com temas polêmicos como, por exemplo, o Pulp Fiction – Tempo de violência, de Quentin Tarantino, quando as coisas não estavam tão coloridas e Jesse parecia que ia desabar a qualquer momento (aquela fragilidade típica dos adolescentes que acabamos perdendo por ficarmos insensíveis à vida...), Gilmour alcançava seu filho com um filme do tipo A Felicidade não se compra, de Frank Capra.
Bom, ser pai é uma coisa, ser professor é outra, podemos pensar. De fato, conviver com seu filho, conhecê-lo profundamente, seus medos, felicidades e angústias já é algo difícil para muitos pais que parecem ter desistido do instinto natural de criá-los, imagina para nós professores que temos uma infinidade de pupilos carentes que precisam de nós, de nossa experiência e conhecimento. Como conhecê-los em suas essências? Como tratá-los como seres humanos, observando suas individualidades, quando nós mesmos parecemos cansados, não valorizados e perdidos em tantos empregos? É..., ser educador não é fácil, ser professor menos ainda. Querer ser professor é apenas para aqueles que desejam ser educadores. Educador é aquele que sonha com o outro, sai do seu ego para aprender e crescer ao ensinar, é feliz em dividir e jamais pensa que seu trabalho é um sacrifício, mas sim uma missão. O resultado de sua prática não pode ser muito diferente do que ocorreu com Jesse. Estimulado com o convívio atencioso do pai, com um conhecimento acessível, ligado as belezas e idiossincrasias da vida, Jesse decide voluntariamente voltar a estudar, se sentindo capaz de conquistar o mundo, apesar de todas as barreiras que poderia encontrar...
Clube do filme foi uma preciosa lição para mim que, ainda enquanto estudante, já me enchia de preconceitos. O conhecimento pode estar em qualquer lugar, mesmo num Best-seller ou numa novela das nove, quem sabe? Basta você querer conhecer e para isso é preciso ir sempre além. Por isso professor/educador, não deixe de observar tudo a sua volta e principalmente seus alunos, ou melhor, educandos. Procure saber seus nomes, um pouco da sua história e de seus sofrimentos, entenda suas dificuldades, auxilie-os, compartilhe de suas vitórias, não despreze seus gostos por filmes e livros, conheça-os! Não deixe sua profissão entrar no sistema da sociedade massa... Cada aluno é especial, ver não é suficiente é preciso olhar e cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz.
Thais Carvalho Fonseca

2 comentários:

  1. mana eu n li, como sempre, mas sei q esta otimo pq e a pessoa mais inteligente q conheço, te amo demais, A FOTO LA ENCIMA TA LINDAA e eu sei q nesse espaço n é pra fazer esse tipo de comentario, mas como eu sei q vc sempre olha seu blog resolvir escrever aq msm..te amooo muito ta td lindooo, bjjj saudade enorme

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  2. clube do filme në? interessante thais, sabe com 4 filhos voce acaba tendo que ser um educador de qualquer forma e ai voce pensa quando desistiu anos atras de um certo curso ja em estagio porque achou que lhe faltaria paciencia para exercer a profissao e anos mais tarde descobre que afinal de contas ensinar e aprender e pra vida toda, estaremos sempre sendo alunos e professores nesta vida e os que se prepararam melhor para isto estao com uma vantagem maior e descubro que acabei ficando na fase do estagio pra vida toda.E vivendo e aprendendo. nao deixe para amanha o que se pode fazer hoje. parabens carissima thais. meu nome e advila arouche sampaio filha de elias de melo sampaio (falecido )que por sua vez e irmao de ester sampaio costa.

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