sábado, 11 de abril de 2009

Perdão para Judas



Eu, Judas Iscariotes, meu nome infernizado,
Com escárnio e horror!
A humanidade foge de mim apavorada,
Por que sou traidor
Mesquinho e cruel
Lixo fecal das fossas transbordantes,
Trai o meu Senhor
Dei-lhe a taça de fel
Que ato degradante!!
Nunca jamais pensei em só instante.
Quando na última ceia disseste aquele dia.
Um de vós há de trair-me, que estranha ironia!
Alguém pergunta a teu corpo reclinado,
Sou eu Senhor? Aquele a quem eu der este bocado.
E molhando um pedaço do teu pão, deu a mim
Judas Iscariotes
Filho de Simão
Por que a mim? Tão cruel sentença.
Senhor! Eras meu mestre, em ti eu tinha crença.
Era ambicioso, vulgar, mas não era insano,
Para não distinguir que eras um santo e eu um tirano!!
Traindo Jesus! Meu mestre, Meu Senhor!!!
Por mais mesquinho e desumano Sou
Teria que haver uma razão bem forte...
Oh! Não, não tu Jesus não merecia a morte.
Por que então haveria de traí-lo.
Dinheiro, Madalena, Sexo?
Não teria nexo...
Ciúmes dela... bom: Até que tinha.
Mas... Ela embora uma pecadora a mim não convinha
Trair meu mestre por banal carença
Desgraçado de mim que ela não via
Com olhar que a praticar tão grande mal convença.
Não seria essa a realidade.
Seria mórbido demais e dupla crueldade.
Seria trair a fé do mestre e do amigo
Seria expor-me ao repúdio daquele
Que me deu abrigo
Oh! Senhor! São os mistérios divinais
Sei tudo
Alguém tinha de torna-te mudo:
Alguém teria de entregar-te aos fariseus nojentos!
Fui eu o escolhido para tão infeliz evento!!
Terias que passar por tão grande agonia,
Teu pai te destinou e assim seria.
Traição, infâmias, armaguras.
Para que fossem cumpridas as escrituras
Fui escolhido para teu carrasco!
Sou o infeliz maldito que a todos causa asco!
A mim que vi quantos milagres obrastes
A filha da Cananéia apenas tu falaste
Grande é a tua fé, e logo curada
Estava ela de pé.
Jamais me esquecerei daquela multidão
Que para saciá-los, multiplicaste o pão
E aquela mulher que o sangue lhe fugia e em prantos
Ficou logo curada só em tocar teu manto!
O cego de Jericó! O paralítico de Cafarnaum:
A todos tu curavas, sem escolher nenhum.
E Lázaro? Que já estava sepultado
Daquela sinistra cova foi tirado
Fazendo cessar de seu irmão o pranto.
Eu sei Senhor! Tu és um Santo...
E tantos outros milagres,
Eu vi tu andando sobre o mar!!!
E tantos espíritos malignos expulsar...
Eu te entregar a Caifaz, Por quê?
Eu inda não era satanás
Será que foram aqueles trinta dinheiros malditos
Não, não acredito
Seria cruel demais, e infame, não eu juro,
Aquelas moedas de prata, que até joguei no monturo?
Não eu não queria, foi tudo planejado
Para este ato tão vil ser consumado.
Logo com um beijo que só o amor confirma,
Foi o elo de ódio que marcou minha sina.
Eu também meu bom mestre fui traído!
Porque fui tão cruelmente escolhido:
Para cumprir a mais torpe missão,
De traidor, infame, vil covarde,
Indigno vilão.
Ainda perguntaste
A que teria vindo
Quando sabia que ao beijar-te
Estava te traindo...
Eu sei Jesus Só tu não me condenas
E até de mim: tiveste pena
No céu fui escolhido
Oh! Infeliz missão, para ser vilão.
Ao ver-te sofrendo naquela cruz, em confusão entrei
Obter-te de ti perdão, jamais pensei:
Fui mais que um bandido perverso desalmado
Menos que a baba de uma lesma e seu rastro deixado!!
Mas... Jesus escuta o que te digo
Fui teu algoz, ao invés de teu amigo...
Mas Pedro também traiu-te de forma mais amena
Negou te conhecer para fugir da pena
E não foi castigado, porque estava escrito
Ele não seria inimigo de seu Mestre
O Cristo!
Quem foi o mais covarde em toda esta história?
Eu predestinado à missão tão inglória
Ou o infame Pilatos, que sem justa razão
Entregou-te aos Sacerdotes, lavando após as mãos?
Fazendo inda mais; trocou-te
Que ironia!!!
Pelo infame Barrabás
Embora não ficando esquecido,
Mas nunca foi como eu, tão escarnecido
Eu sei meu crime foi hediondo, trai o Messias.
Mas foi para cumprir as profecias.
Devolvi as trinta pratas em desagravo,
Não fiquei sequer com um centavo
Meu Deus! Meu Deus, sou mais que um virulento!!
A humanidade foge de mim;
Meu nome é repelente!
Só a mim caiu toda maldição.
Toda a humanidade não me dá perdão!
O céu, a terra toda me despreza
Ninguém se lembra de mandar-me reza.
Há quase dois mil anos sou excomungado
Flagelado até ficar despido
Como tu Senhor, também sou cuspido...
Em figueiras sou pendurado
Cabeça pendida todo esfarrapado.
E depois...
Sou arrastado pela rua
Toda vez que tem sábado de Aleluia
Eu sei Jesus só tu me condenas
E até de mim tivestes pena
Sabes que do céu fui escolhido
Oh infeliz missão
Para ser o desgraçado o infeliz vilão.
Naquela cruz, com sede, deram-te vinagre...
Furaram tuas mãos, que tanto fez milagre!
Tanto suor e sangue, tantas gotas tantas
Naquela agonia, naquela grande dor...
Gritastes!!!
Deus meu! Deus meu! Porque me abandonaste?
Com resignação dissestes a verdade...
Pai! Seja feita a tua vontade...
Assim teria que ser estava escrito:
No céu foi planejado,
Meu bom Cristo...
Terias que ser sacrificado
Salvarias este mundo do pecado
Embora talvez quem sabe? Tudo foi em vão
O mundo vive em eterna confusão


Hoje estás na glória meu bom Cristo
Te peço que atentes para isto.
Paulo perguntou-te certo dia
Se sete vezes se perdoaria,
Não só sete devemos perdoar, dissestes
Mas setenta vezes sete
Então só a mim, que pequei de vez primeira
Fui condenado pela vida inteira?
Por todo sempre sou excomungado.
A plebe me rejeita, me expurga a sociedade
Prenhe de ódio não quer entender
Que apenas cumpri um indigno dever
Assim como fui eu podia ter sido João,
Lucas, Felipe, Thiago ou Simão.
Infelizmente fui eu o predestinado.
Senhor, mas já é tempo de ser perdoado
Nunca alguém teve sorte tão rasteira
Não bastou ter me enforcado naquela figueira?
Sendo flagelado pelos anais da história
Inda nos verdores de meus poucos anos!
Senhor, Senhor
Já não sou eu tirano
Perdão Senhor: te peço ajoelhado
Tem pena de mim, já fui tão castigado
Não posso mais Senhor, chega...
Diz a esta humanidade que o perdão me nega
Que tudo foi tramado nas alturas
Que apenas eu cumpri:
As escrituras


Esther Sampaio Costa

Maio de 1977


Um comentário:

  1. Muito legal a poesia da Esther, surpreendente mesmo o pensamento dela. Quando colocar outras avisa pra a gente ler! E adorei as fotos das telas aqui, que chique, hein! Obrigada ;)
    Super beijo!
    Alanna

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