A noite de estreia do Praia Grande das Artes, na terça-feira, 27 de outubro, trouxe aos ludovicences a oportunidade de contato com uma produção cinematográfica que se encontra atualmente à margem no meio áudio-visual: o cinema maranhense e o cinema europeu. Ressalte-se que tal ostracismo não é o típico processo de exclusão por (pré)conceito da crítica popular, mas pelo desconhecimento e falta de acesso do grande público.
Do cinema maranhense tivemos Ódio, de Bruno Soares e Reverso, de Francisco Colombo como os representantes do dia; diga-se de passagem, com grande êxito. Os curtas revelaram um inegável potencial do áudio-visual maranhense, que vem se expandindo nos últimos anos. Ódio trata dos problemas existenciais do ser humano, das dúvidas quanto a sua origem e seu destino; Reverso surpreende o espectador ao retratar uma violência causada por processos cíclicos, afinal “alguém sempre tem que se dar mal no final” diz o ator Gilberto Martins no papel de um assaltante negro que se torna a vítima em seu próprio assalto. Ambos os cineastas não dispensaram uma fotografia que revelasse os entornos da Ilha Rebelde o que, para o espectador ludovicence, favorece um salutar processo de identificação com a obra.
Após os curtas, iniciou-se a exibição de Os amantes da ponte neuf, de Leon Corix, com Juliette Binoche, uma excelente mostra do que é o cinema europeu, em especial o francês. Corix traz a temática de um amor diferente, baseado numa relação de proteção e apoio entre dois moradores de rua que vivem na Pont-Neuf, a ponte mais antiga de Paris. É lá que Alex conhece Michele. Ela é uma pintora da classe média que, fugindo de um relacionamento que não deu certo, decidiu viver nas ruas para pintar o máximo possível antes que fique cega em função de uma doença. Alex ganha a vida fazendo performances circenses e é viciado em álcool e sedativos. O casal protagoniza um relacionamento de escape; uma forma de refúgio às intempéries da vida.
As películas em questão são muitas vezes tachadas pela crítica de cult, uma expressão utilizada quando se quer marginalizar excelentes produções, com um bom nível de criticidade; diferente de boa parte do cinema massificado produzido por Hollywood. Apreciar arte não é algo restrito a iluminados ou aos dotados de grande intelectualidade. A arte é o que há de mais puro da expressão humana e sua missão, ou sua dignidade, como entende Eduardo Galeano, é transformar a vida daquele que se dispõe a enxergá-la, a percebê-la. Inserir a idéia de diferença em arte se torna um equívoco quando percebemos que a subjetividade é inevitável ao artista e, portanto, a pluralidade é o ser e não o dever-ser da arte. Falar em diferenças só é possível quando há paradigmas ou padrões que permitem o processo diferenciativo, algo que em arte é definitivamente inválido.
Marginalizar determinados segmentos cinematográficos decorre de uma ação que não parte do público, muitas vezes restrito a determinadas exibições de conteúdo apelativo e pouco reflexivo que distanciam ainda mais a população de uma educação artística através do cinema. Desvelar o cinema, enquanto fenômeno artístico e social, é conhecer sua gama de produções, compreendê-las e relacioná-las, algo que só acontece quando a democratização da arte é uma realidade.
Do cinema maranhense tivemos Ódio, de Bruno Soares e Reverso, de Francisco Colombo como os representantes do dia; diga-se de passagem, com grande êxito. Os curtas revelaram um inegável potencial do áudio-visual maranhense, que vem se expandindo nos últimos anos. Ódio trata dos problemas existenciais do ser humano, das dúvidas quanto a sua origem e seu destino; Reverso surpreende o espectador ao retratar uma violência causada por processos cíclicos, afinal “alguém sempre tem que se dar mal no final” diz o ator Gilberto Martins no papel de um assaltante negro que se torna a vítima em seu próprio assalto. Ambos os cineastas não dispensaram uma fotografia que revelasse os entornos da Ilha Rebelde o que, para o espectador ludovicence, favorece um salutar processo de identificação com a obra.
Após os curtas, iniciou-se a exibição de Os amantes da ponte neuf, de Leon Corix, com Juliette Binoche, uma excelente mostra do que é o cinema europeu, em especial o francês. Corix traz a temática de um amor diferente, baseado numa relação de proteção e apoio entre dois moradores de rua que vivem na Pont-Neuf, a ponte mais antiga de Paris. É lá que Alex conhece Michele. Ela é uma pintora da classe média que, fugindo de um relacionamento que não deu certo, decidiu viver nas ruas para pintar o máximo possível antes que fique cega em função de uma doença. Alex ganha a vida fazendo performances circenses e é viciado em álcool e sedativos. O casal protagoniza um relacionamento de escape; uma forma de refúgio às intempéries da vida.
As películas em questão são muitas vezes tachadas pela crítica de cult, uma expressão utilizada quando se quer marginalizar excelentes produções, com um bom nível de criticidade; diferente de boa parte do cinema massificado produzido por Hollywood. Apreciar arte não é algo restrito a iluminados ou aos dotados de grande intelectualidade. A arte é o que há de mais puro da expressão humana e sua missão, ou sua dignidade, como entende Eduardo Galeano, é transformar a vida daquele que se dispõe a enxergá-la, a percebê-la. Inserir a idéia de diferença em arte se torna um equívoco quando percebemos que a subjetividade é inevitável ao artista e, portanto, a pluralidade é o ser e não o dever-ser da arte. Falar em diferenças só é possível quando há paradigmas ou padrões que permitem o processo diferenciativo, algo que em arte é definitivamente inválido.
Marginalizar determinados segmentos cinematográficos decorre de uma ação que não parte do público, muitas vezes restrito a determinadas exibições de conteúdo apelativo e pouco reflexivo que distanciam ainda mais a população de uma educação artística através do cinema. Desvelar o cinema, enquanto fenômeno artístico e social, é conhecer sua gama de produções, compreendê-las e relacioná-las, algo que só acontece quando a democratização da arte é uma realidade.
Texto publicado no jornal O Estado do Maranhão em 01 de novembro de 2009
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