terça-feira, 26 de julho de 2011

O Grito do vizinho

Todos os dias escuto gritos, mas prefiro fingir que não os ouço. Alguém lá fora faz questão de ser ouvido - ou é inevitável não se fazer ouvir. Todos escutam os gritos. Não é apenas eu que me faço de surda. Ninguém quer ouvir os gritos. O sofrimento lá de fora não é oculto. Ele bate na nossa cara.

Todos os dias ouço gritos. Alguém que mora ao meu lado sente muitas dores. Uma dor sofrida e difícil. O grito é alto, firme, cheio de ais profundos... A voz trêmula me corta o coração. Edward Munch fez o grito sem voz. Meu vizinho faz da sua voz um grito.
Ele quer falar da sua dor. Mas falar da dor é uma idiotice. A dor merece apenas gritos. Merece apenas o irracional e o espontâneo. Merece o que temos de melhor.

O grito do vizinho fala da dor verdadeira. Fala do princípio da realidade, do inevitável e inesperado da vida. Preso a uma cadeira de rodas meu vizinho joga na minha cara a vida. Grita para todos ouvirem o que é viver, mas ninguém, ninguém quer saber...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Para saber mais...

Pesquisa personalizada