sábado, 7 de março de 2009

Como analisar narrativas, Cândida Vilares Gancho




Segundo Cândida Vilares Gancho, a narrativa é estruturada sobre cinco elementos principais: enredo, personagens, tempo, espaço e narrador. Há muitas possibilidades de narrar, oralmente ou por escrito, em prosa ou em verso, usando imagens ou não. Vilares, porém, traça em sua obra as características das narrativas literárias e em prosa.


Os textos literários podem ser classificados em gêneros de acordo com sua estrutura, estilo e a recepção junto ao público leitor ouvinte. A clássica divisão é a que classifica os gêneros em épico, lírico e dramático. O primeiro é o gênero narrativo ou de ficção que se estrutura sobre uma história. O segundo trata da poesia lírica, e o terceiro engloba os textos de teatro. As narrativas em prosa mais difundidas são o romance, a novela, o conto e a crônica.


Toda narrativa se estrutura sobre os cinco elementos citados acima, porém é a presença de narrador que caracteriza fundamentalmente a narração. O enredo, como primeiro elemento, refere-se ao conjunto dos fatos de uma história dotada de estrutura e de natureza ficcional. Esta deve ser verossímil, ou seja, mesmos os fatos sendo inventados, o leitor deve acreditar no que lê. Esta credibilidade advém da organização lógica dos fatos dentro do enredo, que devem ter uma relação de causa e conseqüência. A estrutura do enredo centra-se em seu conflito, naquilo que movimenta a história. O conflito é qualquer componente da história que se opõe a outro, criando uma tensão que organiza os fatos da história e prende atenção do leitor. Assim, levando-se em consideração o conflito pode-se estruturar o enredo em: exposição, complicação, clímax e desfecho. Há ainda o enredo psicológico, marcado por fatos emocionais, que não são evidentes por não serem uma ação concreta.


O personagem, como segundo elemento, é quem faz a ação. Ele só existe quando interfere no enredo direta ou indiretamente e se define pelo que faz ou diz e pelo julgamento que fazem dele o narrador e os outros personagens. Quanto ao papel desempenhado no enredo o personagem pode ser: protagonista (herói e anti-herói); antagonista e secundário. Quanto à caracterização podem ser: personagens planos (tipo ou caricatura) ou personagens redondos. Os planos são personagens estáveis, fixos e previsíveis, com características típicas (tipo) ou não (caricatura, com características ridículas). Em contrapartida, os redondos são personagens imprevisíveis, com inúmeras características que podem se contradizer, dependendo de quem e de quantos julgam tal personagem.


Na narrativa há também o tempo, como terceiro elemento. Ele é fictício, isto é, interno ao texto, entranhado no enredo. Os fatos de um enredo estão ligados ao tempo em relação à época em que se passa a história e à duração da história. O tempo na narrativa pode ser cronológico, quando é linear, ou psicológico, quando não segue a ordem natural dos acontecimentos, utilizando-se da técnica do flashback.


O espaço, como quarto elemento, é o lugar onde se passa a ação numa narrativa. Tem como funções principais situar as ações dos personagens e estabelecer com eles uma interação, quer influenciando suas atitudes, pensamentos ou emoções, quer sofrendo eventuais transformações provocadas pelos personagens. O termo espaço, de um modo geral, só dá conta do lugar físico onde ocorrem os fatos da história; para designar um “lugar” psicológico, social, econômico etc. deve-se empregar o termo ambiente.


Como último elemento da narrativa Vilares indica o narrador, destacando sua importância como estruturador da história. O narrador frente aos fatos narrados pode ser na: terceira pessoa (o narrador observador onisciente e onipresente) e na primeira pessoa (o narrador personagem). Este pode ser testemunha ou protagonista, já aquele pode ser caracterizado também como intruso ou parcial.


Cândida Vilares ressalta também a diferenciação entre tema, assunto e mensagem na narrativa. O tema é a idéia em torno da qual se desenvolve a história. O assunto é a concretização do tema, isto é, como o tema aparece desenvolvido no enredo. Por fim, a mensagem é um pensamento ou conclusão que se pode depreender da história lida ou ouvida.


Há, ainda, os discursos na narração que se refere às várias possibilidades de que o narrador dispõe para registrar as falas das personagens. O discurso Direto configura-se como um registro integral da fala do personagem, do modo como ele a diz, sem a interferência do narrador. Isso ocorre, na forma mais convencional, através de verbos de elocução, dois-pontos e travessão. Há variações desta forma feita por vários autores. Outra forma é o uso de aspas no lugar do travessão. Autores modernos, como José Saramago, não diferenciam as falas dos personagens e a intervenção o narrador com recursos. O discurso Indireto registra a fala do personagem através do narrador, isto é, o narrador é o intermediário entre o instante da fala do personagem e o leitor. Por fim o discurso Indireto Livre é um registro da fala ou do pensamento de um personagem que consiste num meio termo entre o discurso direto e o indireto, porque apresenta expressões típicas do personagem mas também a mediação do narrador.


Através de todos esses elementos da narrativa apontados pode-se realizar um roteiro de análise literária de narrativas. Com base em tais apontamentos, pode-se emitir uma opinião crítica obre o texto. Independente de a opinião ser favorável ou não ele deve sustentar-se em argumentos lógicos e com dados tirados do texto.




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