sábado, 11 de setembro de 2010

As Fábulas de La Fontaine

Segundo Biografias, o francês Jean de La Fontaine, era filho de um inspetor de águas e florestas, cargo este assumido pelo escritor em meados de 1652, para depois trabalhar com o ministro das finanças Nicolas Fouquet, mecenas de vários artistas, a quem dedicou uma coletânea de poemas. La Fontaine estudou direito e teologia, mas seu interesse maior sempre foi a literatura.
Nelly Novaes Coelho, especialista em Literatura Infanto/Juvenil, explica que Fontaine se imortalizou por suas fábulas, mas cultivou diversos gêneros literários que, na sua época, ostentavam status, como madrigais, baladas, epístolas, elegias, e novelas como Amours de Psyché et de Cupidon (1669) e Contes et Nouvelles en vers (1664), obra que não foi aceita pelo rei Luís XIV por seu imoralismo, impedindo temporariamente o escritor de suas pretensões à Academia de Letras Francesa, adentrando-a apenas em 1683.
Na época, o crítico literário Boileau não considerava a fábula como gênero em sua Arte Poética (1674). Autores como Rousseau e Lamartine censuravam as fábulas por serem utilitaristas, egoístas e de moral epicurista. Ainda hoje esse preconceito permanece. Todorov, um eminente teórico da literatura, afirma que nos dias de hoje a alegoria explícita, na qual as fábulas são suas principais representantes, é considerada subliteratura por uma tomada de posição ideológica.
Para o autor russo, a fábula é uma alegoria pura na qual o sentido primeiro das palavras tende a desaparecer completamente e, apesar do sentido alegórico permanecer incontestável, é comum sua indicação por meio da Moralidade, mesmo que esta não encerre as possibilidades de interpretação. Assim a fábula não é um texto na qual a interpretação é dada, mas sim um texto com fins educativos que sugere uma possibilidade interpretativa, não cabendo a recusa deste gênero. Tanto que as Fábulas de La Fontaine, resgatadas do grego Esopo e do romano Fedron, são populares e recontadas até hoje.Coelho ressalta ainda que La Fontaine manteve toda a simbologia que seus antecessores atribuíram aos animais. Mesmo com algumas incongruências científicas como a cigarra que canta e o corvo que come queijo, o ideário foi mantido e persiste até os dias atuais. O que o Francês realmente buscava era exercer uma crítica político-social acerca dos desequilíbrios e misérias de sua época. Assim, a soberba do rei absolutista encontra-se na figura do leão em textos como a Corte do Leão, o nobre da corte na figura bajuladora da raposa em o Leão, o Lobo e a Raposa, e o ideal de ascensão burguesa em A Leitera e o Pote de Leite. La Fontaine se utiliza da ficção para tratar de aspectos bem realistas; é o típico confronto do século XVII entre o real e o imaginário.
Vale dizer que muito do que se atribui hoje a La Fontaine, como atenta Coelho, são textos que apenas resgatam temas das fábulas do escritor, pois muito foi alterado ao longo do tempo, de acordo com a ideologia da época. Assim, o famoso texto A Cigarra e a Formiga se popularizou como um texto que exalta a figura da formiga por ser trabalhadora em detrimento da cigarra que é uma artista preguiçosa. Vê-se aí o ideal burguês exaltado, muito diferente da intenção de La Fontaine, um aristocrata, que escreve a fábula para exaltar a cigarra.
Dessas ressignificações podemos perceber o quanto a Literatura Infantil/Juvenil está longe de um discurso meramente lúdico. Aqui a ficção está a serviço de um ideal de educação que busca sempre compatibilidades com a ideologia de seu tempo e o interesse daqueles que detêm o poder do discurso.
Texto publicado no jornal O Estado do Maranhão

Nenhum comentário:

Postar um comentário