Invoquemos aqui como mote Denys Arcand, cineasta canadense, que se propõe a falar da morte em seu filme A Invasão dos Bárbaros (2003), resgatando seus personagens de O Declínio do Império Americano (1986). O renascer ficcional dessas figuras parece inevitável quando se quer falar da morte em nossos dias. Numa sociedade na qual a morte só ocorre para o Outro, retratar a morte do Eu é inevitavelmente doloroso para o espectador. As personagens que antes viveram uma luta em torno de ideais ainda existentes em sua juventude, seja o socialismo, o comunismo ou qualquer outro ismo, se vêem agora num amargo niilismo de perspectivas: o capitalismo neoliberal coloca o sujeito como aquele capaz de preencher seu próprio vazio. Diante da morte de Rémy todos percebem que isso não passa de uma tolice, mas agora, sem forças para lutar contra essa onda, ou melhor, sem ideias novas para ressignificar a existência humana, A Invasão Bárbara torna-se incontrolável.
Temos uma horda de homo sapiens vivendo paradoxalmente num estado civilizatório. Rémy, antes um grande intelectual da esquerda, se rende as benesses advindas do dinheiro de seu bem sucedido filho, que trabalha para multinacionais, quando se vê entrincheirado numa asquerosa cama de um hospital público canadense; estatização que ele tanto defendeu em sua vida. O seu estado de zoon faz com ele renuncie a sua possibilidade de politikon. Mas agora quem socorre o animal é próprio sistema estabelecido, pois este reproduz as próprias condições do homem em seu estado de natureza. Nossa civilização é bárbara! Nossa lei é a do mais forte, do Eu capaz de ser o senhor de si e incapaz de perceber sua própria condição social, do Outro negado para que o Ego surja vitorioso.
Rémy e seus amigos possuem apenas lembranças e suspiros. O monstro da morte deixa seus olhares vazios, jamais cegos. A polícia, conivente com o tráfico, fornece a heroína necessária às dores de Rémy. A enfermeira cristã é capaz de realizar a eutanásia de um paciente que não suporta mais a vida. O filho capitalista, dentro de seu ideal de perfeição, não consegue se libertar de si mesmo para atender seus anseios, seus amores... Todo o imbróglio de acontecimentos é familiar ao espectador. Ver a morte de Rémy é como ver o nosso próprio desespero.
Imersos em nossa ostentosa correria, orgulhosos de não termos mais tempo, não queremos assumir o medo de estarmos sós. Enquanto temos um bom salário e pagamos uma cara educação para nosso filhos, para que eles também sejam bem sucedidos seja lá no que for, não nos preocupamos seriamente com os sem dinheiro e os sem educação. O mundo se resume em minha casa, meu carro, minha família, meus pertences e uma ligação ao Criança Esperança talvez.
Somos capazes de ruminar discursos como Desenvolvimento Sustentável, o País de Todos, De volta ao trabalho, Faça Concurso, Avaliação objetiva, Faça sua parte... É surpreendente como somos capazes de assistir a um filme como Tropa de Elite e simplesmente afirmar, deitado no sofá, que o filme é um apelo à violência. Levantamos a bandeira da educação com todas as belas palavras que somo capazes de encontrar, mas salve aquele pai brasileiro que deseja que seu filho se torne professor da rede pública...
Para terminar nossa rápida divagação, não dá pra concluir sem esta belíssima, digamos, mensagem criada pelos consumidores para a Luftal; afinal por mais que queiramos esquecer a sociedade ela possui suas pequenas vitórias:
Temos uma horda de homo sapiens vivendo paradoxalmente num estado civilizatório. Rémy, antes um grande intelectual da esquerda, se rende as benesses advindas do dinheiro de seu bem sucedido filho, que trabalha para multinacionais, quando se vê entrincheirado numa asquerosa cama de um hospital público canadense; estatização que ele tanto defendeu em sua vida. O seu estado de zoon faz com ele renuncie a sua possibilidade de politikon. Mas agora quem socorre o animal é próprio sistema estabelecido, pois este reproduz as próprias condições do homem em seu estado de natureza. Nossa civilização é bárbara! Nossa lei é a do mais forte, do Eu capaz de ser o senhor de si e incapaz de perceber sua própria condição social, do Outro negado para que o Ego surja vitorioso.
Rémy e seus amigos possuem apenas lembranças e suspiros. O monstro da morte deixa seus olhares vazios, jamais cegos. A polícia, conivente com o tráfico, fornece a heroína necessária às dores de Rémy. A enfermeira cristã é capaz de realizar a eutanásia de um paciente que não suporta mais a vida. O filho capitalista, dentro de seu ideal de perfeição, não consegue se libertar de si mesmo para atender seus anseios, seus amores... Todo o imbróglio de acontecimentos é familiar ao espectador. Ver a morte de Rémy é como ver o nosso próprio desespero.
Imersos em nossa ostentosa correria, orgulhosos de não termos mais tempo, não queremos assumir o medo de estarmos sós. Enquanto temos um bom salário e pagamos uma cara educação para nosso filhos, para que eles também sejam bem sucedidos seja lá no que for, não nos preocupamos seriamente com os sem dinheiro e os sem educação. O mundo se resume em minha casa, meu carro, minha família, meus pertences e uma ligação ao Criança Esperança talvez.
Somos capazes de ruminar discursos como Desenvolvimento Sustentável, o País de Todos, De volta ao trabalho, Faça Concurso, Avaliação objetiva, Faça sua parte... É surpreendente como somos capazes de assistir a um filme como Tropa de Elite e simplesmente afirmar, deitado no sofá, que o filme é um apelo à violência. Levantamos a bandeira da educação com todas as belas palavras que somo capazes de encontrar, mas salve aquele pai brasileiro que deseja que seu filho se torne professor da rede pública...
Para terminar nossa rápida divagação, não dá pra concluir sem esta belíssima, digamos, mensagem criada pelos consumidores para a Luftal; afinal por mais que queiramos esquecer a sociedade ela possui suas pequenas vitórias:
Thais Carvalho Fonseca
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