terça-feira, 16 de agosto de 2011

Dois aspectos da linguagem e dois tipos de afasia

A partir do estudo de Jakobson do fenômeno da afasia[1], o teórico chega a importantes conclusões sobre questões da linguagem. O linguista parte da percepção trabalhada por Peirce de que o signo, a unidade lingüística é interpretada a partir de duas referências, uma ao código, numa relação interna, e outra ao contexto, seja ele codificado ou livre, numa relação externa. Isso ocorre porque o signo é formado através de operações de combinação com outros signos no nível do código e da mensagem e de seleção de signos no nível do código. Assim a similitude entre os protagonistas no ato de comunicação depende da utilização de um código rígido e a contigüidade da formulação de uma mensagem na qual o contexto desta seja comum a ambos.[2]
Deste duplo caráter da linguagem, Jakobson retira as duas classificações de distúrbios afásicos, os distúrbios da similaridade e o distúrbio da contiguidade. No primeiro tipo, o paciente afásico possui uma deficiência de seleção, possuindo a seu favor apenas as operações de combinação, sendo o contexto um fator indispensável para esses doentes, pois eles irão depender completamente do contexto na elaboração da linguagem, sendo incapazes de metaliguagem, ou seja, não possuem capacidade de denominar. No distúrbio da similaridade apenas a metonímia é possível, por esta ser formada a partir das relações de contigüidade.
No distúrbio de contigüidade, o afásico elimina a função do contexto, ou seja, ele não realiza as operações de combinação, perdendo ascendentemente a capacidade de linguagem. Como utiliza a similitude, ele representa através de um código, mas este não se desenvolve em combinações. Assim partindo do nível fonológico para a formação de palavras, este doente já poderá apresentar problemas, tendo um vocabulário homonímico e simples. A patologia é particularmente forte obviamente nos níveis sintáticos e semânticos, ou seja, na formação de frases e enunciados que não serão construídos produtivamente ou não serão construídos. In casu, o doente é capaz de identificações metafóricas, por ser capaz de selecionar e substituir.
A partir dessa percepção, Jakobson pôde concluir que “um discurso pode ocorrer segundo duas linhas semânticas diferentes: um tema (topic) pode levar a outro quer por similaridade, quer por contigüidade.” (JAKOBSON, 2008, p. 55). Ou seja, ou se privilegia os processos metafóricos ou os processos metonímicos em determinados momentos.
In: JAKOBSON, Roman.  Dois aspectos da linguagem e dois tipos de afasia. In: JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação.21ª ed.  São Paulo: Cultrix, 2008. p. 34-62.


[1] De acordo com o Dicionário Aurélio: Perda do poder de expressão pela fala, pela escrita ou pela sinalização, ou da capacidade de compreensão da palavra escrita ou falada, por lesão cerebral, e sem alteração dos órgãos vocais.
[2] Nesta ideia estão inseridos os elementos realidade (função referencial), emissor (função expressiva) e receptor (função conativa). Com relação ao primeiro fala-se em elementos conceituais, ao segundo e terceiro fala-se em elementos afetivos do sentido, segundo Rodolfo Ilari

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