domingo, 4 de novembro de 2012

A morte de Ivan Ilitch

"Para ele tudo aconteceu em um único instante e a sensação daquele instante não mudou dali em diante. Para os que presenciavam sua agonia, esta durou mais de duas horas. De sua garganta ainda saía um som e via-se um estranho movimento de seu corpo já sem vida. Até que a respiração ofegante e o som passaram a vir em intervalos cada vez maiores.
_Acabou! - disse alguém perto dele, o que ele repetiu dentro de sua alma.
"A morte está acabada", disse para si mesmo. "Não existe mais."
Respirou profundamente, parou no meio de um suspiro, esticou o corpo e morreu.

2 comentários:

  1. A novela "A morte de Ivan Ilitch" de Leon Tolstói é deveras um dos textos literários mais profundos que eu já tive oportunidade de ler. A morte sempre parece algo que não nos pertence. Tolstói, entretanto, quase consegue, em alguns lapsos de leitura, fazer com que a morte pareça algo realmente muito íntimo da nossa existência.
    Assim como nós ficcionamos a morte, o juiz Ivan Ilitch não consegue aceitar o fato de sua mortalidade. A leitura nos conduz a acompanhar a descoberta desse burocrata de que a morte o iria atingir e, assim como ele, nos sentimos momentaneamente abarcados por Ela também.
    A prosa bastante realista quase nos faz encarar de frente a senhora morte, algo angustiante, mas ao mesmo tempo profundo. A morte leva Ilitch a considerar os limites de sua vida e o quanto deixou de viver ao tentar fazer aquilo que era considerado o certo. Afinal nosso drama maior não é saber se vivemos de fato? Estar morto em vida é talvez um dos nossos maiores medos...
    A passagem final, com o seu drástico Acabou! é quase uma vivência literária perfeita sobre o In Extremis.

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  2. Na literatura, assim como na vida,muitas vezes a morte vem acompanhada de coisas irrelevantes, (...). Proust supõe que essa irrelevância sempre acompanha nossa morte, por nunca estamos preparados para ela; nunca pensamos que nossa morte vai ocorrer "nessa tarde mesmo".
    James Wood, Como funciona a ficção

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