sábado, 25 de julho de 2009

TRÊS MOMENTOS DA POÉTICA ANTIGA


ROBERTO DE OLIVEIRA BRANDÃO
Introdução de: ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A Poética Clássica. São Paulo, Cultrix, 1997.
1. A POÉTICA DE ARISTÓTELES: DA REFLEXÃO À LEI
O texto de Aristóteles foi descoberto apenas no século XVI, com os estudiosos renascentistas italianos que difundiram tal estudo literário no mundo ocidental. Estiveram preocupados em esclarecer os conceitos ali expostos, buscando conhecê-los e solucioná-los para aplicá-los à literatura italiana contemporânea a eles. Apenas num segundo momento os conceitos abordados pela poética vão ser considerados como formulações definidoras do objeto literário ou como um mote para o desenvolvimento de novas posturas teóricas em relação à literatura.
O conceito de verossimilhança é um exemplo do desenvolvimento da teoria literária moderna a partir de Aristóteles. Tal conceito, central na proposta mimética do filósofo, se estende não apenas à seara literária mas também a diversas áreas atinentes como cinema, publicidade e psicanálise. Porém apenas no século XIX a Poética será vista como um preceituário de soluções práticas que devia orientar a criação e a avaliação de obras concretas.
Nessa perspectiva, a Poética, e teóricos que a precederam, como Horácio e Longino, passaram a ser considerados essenciais para racionalizar conceitos e regras que pudessem nortear a criação literária, na busca de disciplinar as forças criativas pelas verdades universais propostas pelos clássicos.
Assim pode-se ver que cada sociedade histórica leu a Poética em diferentes possibilidades, conforme interpretações ante o objeto literário.
2. A ARTE POÉTICA DE HORÁCIO: O TRABALHO E A DISCIPLINA COMO FATORES CRIATIVOS
A Ars Poetica de Horácia contém o pensamento amadurecido deste filósofo romano sobre a arte literária que já havia sido explorado por ele em seis poemas (três sátiras e três epístolas); formulou, assim, o que será considerado a teoria clássica da literatura. Já nos seus primeiros escritos podem-se observar as inclinações de Horácio, como a recusa de valores preestabelecidos, preocupação em centrar o mérito da obra em qualidades que lhe parecem inerente, a economia, que impõe eliminar o supérfluo, o equilíbrio, que busca a justa expressão do pensamento e a harmonia, que não admite transigir com a unidade do poema.
Para Horácio a obra literária era regida por leis que podiam ser apreendidas e formuladas e que devem reger qualquer obra que se diz literária. Tal característica de racionalidade e objetividade que deviam permear a obra decorre dos valores sociais romanos da época do filosófo que possuíam um compromisso em associar forma e conteúdo, fórmula clássica que será considerada como uma verdade universal pelos classistas modernos.
A ordem e a unidade da obra literária só podem ser alcançadas pelo poeta através da razão, do trabalho e da disciplina, segundo Horácio. Apesar de a força criativa estar atrelada à natureza, como força autônoma da inspiração, esta é caótica e necessita da razão para que se alcance a ordem. Além disso, o acúmulo da experiência criativa é essencial, pois o artista deve ter consciência de sua obra para criticá-la a todo o momento na busca da perfeição; para Horácio, a atitude crítica está implícita no ato criativo.
Porém além da autocrítica há também necessidade de adesão do público que é considerado por Horácio como co-produtor da obra no sentido de que sua expectativa determina as exigências estruturais que o poeta deve atender se quiser obter a aprovação do público. E assim como entendia Aristóteles a aceitação do público depende da verossimilhança interna e externa da obra, além do critério da necessidade.
3. O TRATADO DO SUBLIME: ENTRE E O CAOS E A ORDEM
Do sublime foi obra escrita em resposta a um tratado de um Aticista, Cecílio, que defendia a correção gramatical e a pureza da linguagem como qualidades supremas do discurso. Tendência oposta é a de Teodoro de Gádara para quem a genialidade, a paixão e o entusiasmo eram mais importantes que a pura correção. O tratado Do sublime, escrito por um Anônimo, segue bastante as teorias de Teodoro, defendendo que o escritor não deve se preocupar demasiadamente em não errar, pois isso retira a atenção daquilo que é o mais importante em uma obra, a expressão e a busca do sublime. Mas para o Anônimo o sublime não é apenas para quem possui o dom de alcançá-lo ele possui regras e pode ser apreendido por ensinamento, a partir de suas fontes.
Antes de explanar quais as fontes do Sublime, o tratado estabelece quais os cuidados que se deve ter com a forma da linguagem que apreende e revela o sublime, e o conceito que o define e o torna possível. O sublime pode ser produzido por aquele que podendo ter bens o menospreza e reconhecido por qualquer ouvinte sensato e com grandeza de alma. Definido isso, passa-se a elencar as fontes do sublime literário. As duas primeiras são fatores psíquicos, disposições inatas, que constituem o objeto da representação: os pensamentos e os sentimentos. As três últimas fontes são de natureza lingüística, e, portanto, produtos da arte; são elas as figuras, a nobreza de expressão e o ritmo.

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